Ativista de 14 anos se destaca com ações ambientais em Avaré

Uma adolescente vem se destacando na mídia nacional e o motivo não poderia ser mais nobre. Com apenas 14 anos, Gabrielle Brandão já tem um instituto que leva o seu próprio nome, Instituto Ambiental Gabrielle Brandão (IAGB), que divulga a sustentabilidade e assuntos ligados ao meio ambiente.

O instituto foi criado por ela e seus pais, em 2009, e promove palestras, eventos de conscientização ambiental e peça teatral para educação de crianças. A jovem ainda escreve artigos para jornais e sites de notícias sobre o assunto.

Gabrielle conta que começou de forma espontânea a defender a natureza, no entanto, o assunto acabou envolvendo toda a família. “Eu tinha 10 anos quando apresentava um programa de desenhos e clipes em um canal pela internet. Lembro que saímos de férias, no fim de 2007, e quando voltamos no ano seguinte, eu comentei com o meu pai que não queria mais perder meu tempo, que iria parar com essas ‘bobeiras’ e iria salvar o planeta”.

Mas ela não lembra o porquê desta atitude tão radical. “Não sei dizer. Meu pai conta que, quando tinha cinco anos, eu vi na televisão uma reportagem sobre o aquecimento global. Vi algumas imagens e comecei a chorar. Acho que isso ficou no meu subconsciente”, conta.

A partir de então, ela continou com o programa na internet, mas começou a abordar assuntos relacionados à defesa do meio ambiente. O programa tinha entrevistas com autoridades do assunto, dicas de como cuidar da natureza, sobre reciclagem, economia de água e luz, como ela mesmo define, ‘situações simples do cotidiano’.

O programa foi exibido até 2010, quando começou a apertar o orçamento do pai, que custeava a causa de Gabrielle. “O ‘paitrocínio’ estava se esgotando. Nunca tivemos um apoiador”. Mas não foi isso que fez a garota deixar tudo de lado.

Ela continou participando de outras formas. Eles montaram uma peça de teatro para apresentar para crianças carentes, sempre com entrada gratuita, para abordar o tema sustentabilidade. Foi nessa época também que começou a escrever para alguns jornais.

O próximo passo da jovem, e também de seus pais, é bem ambicioso. Chamado de ‘projeto CICI’, sigla para ‘Centro Ibiquá de Cultura Indígena’, a família Brandão vai transformar uma área de 20 mil metros quadrados na cidade de Avaré (SP), motivo que fez eles deixarem a capital paulista, em um espaço cultural, mostrando a cultura indígena e as suas ações não exploratórias e de preservação da natureza, e a tecnologia de sustentabilidade do homem branco.

O pai de Gabrielle, Paulo Brandão, 51 anos, explica que a ideia é transformar o espaço em um complexo para educação ambiental. “Pretendemos oferecer diversos serviços gratuitos para a comunidade”.

Ele conta que o ‘Projeto CICI’ só foi possível após conhecerem um empresário de Avaré, que doou a área para o instituto de Gabrielle. “Essa pessoa conheceu o programa de TV pela internet da Gabrielle, em 2008, e apresentou no programa as ações que ele promovia em seu resort na cidade. A partir disso, passamos a nos conhecer”.

Brandão comenta que foi em 2011 que o sonho do projeto começou a virar realidade. “A minha filha e o empresário participaram de um mesmo evento, onde os dois foram homenageados pelas ações ambientais, e nesse encontro ele nos procurou e explicou que tinha uma área e queria usá-la para desenvolver um trabalho assim. Aí nós corremos para formatar o projeto”, e informa que, em alguns dias, deve estar com o projeto científico nas mãos. “Acredito que em dois anos o centro cultural já esteja construído e funcionando”. Com o projeto pronto, eles vão tentar recursos com o auxílio da ‘Lei Rouanet’, que disponibiliza verba para investimento em ações de incentivo à cultura.





Brandão diz que dá total apoio para a filha e conta que, por causa da Gabrielle, ele, a esposa, e oturos dois filhos, estão todos engajados com a causa. Ele trabalha como autônmo na área comercial e conta que conseguiu conciliar tudo, deixando São Paulo para morar em Avaré. “Quando começou a surgir o ‘Projeto CICI’, já comecei a procurar mercado e clientes na região. Assim, não tive problemas em mudar de cidade”.

Gabrielle conta que a mãe é designer e ficou responsável por toda a parte gráfica e site da instituição.

Vida de jovem
Gabrielle comenta que pretende não parar com a causa. E com uma agenda tão cheia, ela revela que consegue fazer tudo o que um jovem faz. “Não deixo de fazer nada por causa disso. A diferença é que tenho meu tempo para cuidar do planeta. Não precisa deixar de ser quem é só por causa do planeta”. Ela conta que não vê suas ações como um trabalho, já que faz isso porque gosta.

Gabrielle diz que até os amigos já estão envolvidos com a luta pelo meio ambiente. “Meus amigos gostam. Já tem vários que estão ‘brigando’ pelo planeta. Quando comecei, tinha um amigo que reclamava, dizia que não ia dar em nada isso que faço. Hoje, ele é super ativista”, conta rindo.

Para ela, o segredo é conseguir conscientizar os jovens, que serão os adultos de amanhã. E a garota está contente com o que vê. “Tem muito jovem fazendo muitas ações. Aos poucos, vamos conseguir mudar todo mundo. Os jovens e os idosos vão ter o mesmo pensamento”.

A ativista justifica que existia um pensamento antigo de que os recursos naturais não iriam se esgotar, por isso, não havia essa questão de uso com responsabilidade. “Por isso degradamos a natureza. Antes, tinha a ideia de que poderia usar à vontade. Isso é uma questão de rever os conceitos e é isso que estamos tentando mudar”.

Ela confessa que não é muito ligada à política. “Eu vejo para ficar por dentro, mas não gosto muito. Eu acompanhei essa questão do novo código florestal. Nós ficamos felizes pela Dilma [presidente] ter vetado aqueles 12 artigos. Ela não pode abrir mão”, explica a jovem sobre a posição da presidente entre o embate dos grupos ambientalista e ruralista. “Sei que querem desmatar para aumentar a área de produção de gado ou plantações, mas temos que colocar na balança para não prejudicar nenhum dos lados. Não adianta ter mais comida e faltar florestas ou vice e versa”.

Quem acha que a jovem quer ser bióloga ou uma engenheira ambiental, se engana. O seu grande sonho é ser atriz e ela afirma que dá para conciliar os dois. “A arte é muito usada para transmitir mensagens. Dá para usar esse trabalho para conscientizar um público. Muitos artistas são formadores de opinião”, argumenta.

Reconhecimento
Gabrielle conta que foi convidada para comparecer em um evento em Paris, capital francesa, no mês de julho, entre os dias 8 e 10, onde irá receber uma homenagem pelo trabalho de conscientização. O prêmio será entregue pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O Fórum Brasil França vai abordar a preservação e o desenvolvimento sustentável com o intuito de identificar projetos que buscam benefícios coletivos.

“Estou muito ansiosa, nervosa e feliz. Nunca imaginei receber um prêmio fora do Brasil, ainda mais pela ONU. O que a gente quer com essas ações é conscientizar para preservar e ter um futuro tranquilo, em que poderemos ter os nossos filhos sem preocupação nenhuma”, finaliza Gabrielle.

Fonte: G1





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